Gráficos ou enredos?
Gráficos! Pronto, chamamos sua atenção. Seguramente é um dos assuntos que mais diverge opiniões entre jogadores e apreciadores de jogos em geral. Atualmente, nos teasers e trailers de novos games é a qualidade dos gráficos que vem de carro-chefe, tomando grande parte de nossa atenção. Se ela continua a surpreender depois do lançamento do jogo é outra discussão. Uso deshaders, anti-aliasing, a placa gráfica mais rápida do mundo — são tantas razões para se entrar em desacordo...
Enredos! Causou a mesma curiosidade? Só depois do lançamento de trailers mais complexos e de maiores informações sobre os jogos é que podemos nos inteirar mais ou menos sobre a narrativa do game. Mesmo no caso de continuações. Quem (ou que exército) você conduzirá através de quais mundos ou épocas para salvar qual princesa? Seria um vírus que está contaminando geral e um humano cego, que teve uma perna e um braço substituídos por nanotecnologia, precisa erradicar a ameaça antes que seja tarde demais para o mundo?
Nada como uma boa rememorada nos grandes jogos que fizeram história na vida dos gamers. Inclusive particularmente. Explicando: o game que fez história na vida de um jogador, pode não ter sido tão importante assim para outro. Porém, o que é garantido é que a trama vivenciada foi o grande marco. Vejamos uma história que possivelmente gere mais consenso do que desacordo.Final Fantasy VIII — isso mesmo, o oitavo episódio da série, na qual Squall Leonhart vive romances e aventuras como mercenário da SeeD. Considerada por muitos a melhor história de FF.
Caberiam aqui, ainda, Final Fantasy VII e Final Fantasy X. Apesar de que apenas este último conta com uma qualidade gráfica um pouco melhor. O que dizer de Metroid? Alguma revelação bombástica? Para os jogadores mais velhos no mundo dos games, o antigo Koudelka, RPG para o primeiro PlayStation, que marcou uma série de bons jogos em suas três continuações para PlayStation 2 (Shadow Hearts, Shadow Hearts: Convenant e Shadow Hearts: From the New World).
E quanto a Ben, líder da gangue de motoqueiros chamada The Polecats , em Full Throttle? Ou Manuel Calavera em sua jornada para desvendar a teia de corrupção do mundo dos Mortos, noGrim Fandango? Ou Guybrush Threepwood e as peripécias em meio a piratas zumbis e duelos de rimas, nos jogos The Curse of Monkey Island e Escape from Monkey Island? Todas essas franquias são relativamente antigas e, mesmo assim, ainda hoje continuam encantando quem quer que as jogue.
Qualidade gráfica compensa narrativas fracas?
Sem contar qualidades técnicas como jogabilidade e controles, um jogo bonito é sempre uma boa pedida para encher os olhos de orgulho. Ao colocar aquele game que encomendamos em pre-order (e acaba de chegar até nossas mãos) pela primeira vez dentro do console, até as logomarcas das produtoras chamam atenção. Na primeira passada de um jogo vale ver todas as aberturas, até que a tela fique estática, pedindo para o controlador selecionar a opção menu, opções, single player ou multiplayer — ou que o valha.
Os mais comuns exemplos de qualidade gráfica com histórias secundárias são os FPS (jogos de tiro em primeira pessoa). Crysis 2 é o exemplo que não sai da cabeça. A parte visual foi extremamente trabalhada em relação à iluminação. São belíssimos gráficos, atentando em cada mudança na projeção das sombras, conforme a incidência dos raios de luz. Inclusive, em ambientes escuros, esses mesmos raios são vistos em feixes transpassando buracos na parede ou janelas. Não menos impressionante é a movimentação que o vento causa no cenário. As árvores se curvam de acordo com a direção e força do vento. E por aí vai.
A história? O que chama mesmo a atenção é o traje Nanosuit de Alcatraz, com o qual o Marine vai à procura do cientista Gould. Ainda que este seja um game com história acima do padrão, em termos deste FPS, o que cativa mesmo é a campanha cinematográfica com os visuais memoráveis durante o jogo. Claro que não só este gênero que leva narrativas menos complexas. Até RPGs podem desapontar na história. White Knight Chronicles que o diga.
Ainda é possível explorar mais uma possibilidade dentro dessa mesma temática: jogos com direção de arte primorosa, porém com gráficos não tão perfeitos assim. Exemplo clássico são os jogos da série BioShock. Os títulos são ambientados na cidade submersa de Rapture, e as imagens são pitorescas. Belíssimos cenários compõem essa obra, que infelizmente não mantém a mesma qualidade quanto à caracterização dos personagens. Mérito e demérito no que parece ser o mesmo quesito, mas não é.
É claro que não podemos restringir os critérios de avaliação de um jogo apenas a um ou a outro. É possível sim contemplar a parte gráfica com magnitude, explorando ao mesmo tempo o enredo de maneira quase que singular. Não chegam a ser raros casos desse tipo, mas em geral, são em pequeno número e se sobressaem tanto em crítica, quanto em vendas.
Quer exemplo mais fácil do que a franquia God of War? Comprovadamente detentor de excelentes gráficos, que o digam as dúzias de prêmios que recebeu nesses quesitos, ainda conta com um enredo sólido e instigante. Que fiel usuário de Xbox não gostaria de jogá-lo em seu console? No primeiro título, a narração vai prendendo e surpreendendo o jogador. Conforme o andamento, informações importantes vão sendo reveladas, inclusive o porquê da cor acinzentada de seu protagonista.
A franquia criada por Hideo Kojima, Metal Gear Solid não fica para trás. Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots tem uma das melhores tramas já vistas. O jogo foi lançado nos primórdios da sétima geração dos consoles, e ainda detém belos gráficos.
O ressuscitado Fallout 3 e a continuação Fallout: New Vegas empregaram gráficos ótimos, mas apesar de não vanguardistas, mantiveram um padrão de qualidade bastante elevado. Acrescido do enredo central das duas tramas, contando com as inúmeras possibilidades dentro do jogo, fazem destes exímios exemplos de convergência entre narrativa e gráfico.
Mais história menos gráfico
Quando o assunto são os portáteis a discussão é um pouco mais fácil. Sem processadores gráficos poderosos, é muito mais fácil encontrar jogos mais limitados aos de consoles grandes. O que torna mais fácil se entediar. A não ser que a história seja boa. Metal Gear Solid: Peace Walker (olha a franquia aí de novo) é o exemplo ideal. A história é longa, complexa, cheia de elementos interessantes, além do que não dá para se dizer que os gráficos sejam ruins.
Silent Hill: Origins é outro bom exemplo. Não tem nada de extraordinário, porém consegue manter o bom nível dos jogos da franquia para os outros consoles. Gráficos legais, jogabilidade boa e temática concordando com o terror psicológico habitual da série. The Legend of Zelda: Spirit Tracks representa o DS, no qual Link e seu poderoso trem encaram desafios de quase 20 horas (na campanha principal), através de belos cenários coloridos.
Este é um ótimo momento para mencionar que esta história pode estar prestes a mudar. Com o recém-chegado Nintendo 3DS e com o vindouro e poderoso sucessor do PSP (o NGP), esperamos que os gráficos deem um salto em qualidade. Os primeiros vídeos do novo portátil da Sony já nos deixam com coceira nos dedos de ansiedade de vê-lo logo.
O foco muda ao longo do tempo
A relevância de gráficos e enredo nos games é periódica. No começo, com o saudoso Atari, a preocupação era a diversão. Com o passar do tempo e a com evolução dos games, passando por Phantom e Master System, chegou ao ápice da variedade dos jogos na era dos 16 bits, com Super Nintendo e Mega Drive.
A era 32 bits deu início a uma preocupação maior com os gráficos. Quando começaram as famosas e amadas cenas de CG (Computação Gráfica) pode-se dizer que foi o ponto de mudança. Daí para frente, as imagens se tornaram o foco principal, até chegarmos aos dias atuais, com as capacidades monstruosas de Xbox 360 e PlayStation 3.
Relações modernas de enredo e interação
Não obstante, as narrativas foram se desenvolvendo também cada vez mais. De simples galinhas atravessando a rua e enduro, até desafios interplanetários e salvar toda a humanidade. Nesta geração, a grande inovação fica por conta de Heavy Rain, que transforma eventos extraordinários de enredo em fatos e acontecimentos corriqueiros, sem perder a complexidade e a relevância dos fatos. Ao que parece, é a nova era dos roteiros, que virão com o selo “baseado em fatos reais”.
O diferencial dos jogos em relação aos enredos é a forma de interação completamente inusitada de qualquer outra mídia. Não é como assistir a um filme ou ler um livro. A interatividade com e para o usuário é única. A imersão na história é muito grande, uma vez que os jogadores protagonizam os eventos. Por essa razão é criada uma sensibilidade muito maior com os acontecimentos.
Em jogos como Fable, Mass Effect, Fallout — nos quais é possível fazer escolhas morais para determinar a continuidade dos acontecimentos — a interação é maior ainda. Claro que ainda não se trata de roteiros perfeitamente diferentes, que possibilitam interação total. Mas ao que tudo indica, caminhamos para games com finais construídos ao longo da jogabilidade de cada um.
Julgar pela aparência?
Levar em conta se o que importa é o gráfico ou se o enredo é melhor é claramente uma escolha pessoal. Quais critérios analisar, como época do jogo ou se ele cumpre o que propõe, fica do julgamento de cada um. Não dá pra discutir o gosto. Mas e você? Qual a sua preferência pessoal — gráficos bons ou enredos bons?
Nenhum comentário:
Postar um comentário